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23/04/2020

MPTO discute questões técnicas sobre o Covid-19 em reunião do Gabinete Integrado de Acompanhamento à Pandemia

O Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19 (Giac-Covid-19) promoveu nesta quarta-feira, 22, reunião entre focalizadores do Ministério Público Federal, Ministérios Públicos Estaduais e Ministério Público do Trabalho (MPT) e a cardiologista Ludhmila Abrahão Hajjar. Professora da Universidade de São Paulo, ela está deslocada para o atendimento de pacientes internados com Covid-19 na UTI do Hospital das Clínicas. O objetivo da reunião foi trazer informações técnicas sobre o combate à pandemia e esclarecer dúvidas dos membros focalizadores do Ministério Público. O Ministério Público do Tocantins foi representado pela promotora de Justiça Araína Cesárea D'Alessandro.


Na videoconferência, Ludhmila apresentou dados gerais sobre a doença. Já são 2,5 milhões de casos confirmados em todo o planeta, com 175 mil óbitos registrados. No Brasil, estão confirmados 43 mil casos e 2,7 mil óbitos. Mas, segundo ela, o diagnóstico no país ainda é baixo, por causa da falta de testes. “Estima-se que o número de casos seja de oito a dez vezes maior. Devemos ter entre 300 mil e 400 mil casos no Brasil”, disse a cardiologista. A taxa de mortalidade no país é de 6% dos casos e, de cada 100 doentes, 20 precisam de internação e cinco de UTI. A média de tempo de permanência em UTI é de 14 dias, o que representa pressão enorme sobre o sistema de saúde. A região Sudeste tem o maior número de pessoas infectadas, seguida pelas regiões Nordeste e Norte.


Segundo Ludhmila, a expectativa é que o número de casos no Brasil aumente nas próximas semanas, o que vai exigir maior número de testes e gestão inteligente dos leitos de UTI para evitar colapso e garantir o atendimento a quem precisa. Ela apontou também a necessidade de se proteger os profissionais de saúde que atuam no combate à doença, falou sobre testes e formas de detectar a contaminação da população, além de explicar os parâmetros adotados pelo Hospital das Clínicas para internar pacientes na UTI.


As principais dúvidas dos focalizadores giraram em torno do uso da cloroquina e de outros medicamentos no combate à doença, e da flexibilização das medidas de isolamento. Em relação ao uso da cloroquina, ela explicou que ainda não existem estudos conclusivos sobre a eficácia da substância em humanos.


Sobre a flexibilização do isolamento, Ludhmila explicou que essa análise precisa ser feita de forma regional, já que o país é muito grande e a doença avança de maneira dinâmica. Além disso, de forma ideal, um plano bem-sucedido de flexibilização deve considerar três parâmetros: doença estável nos 14 dias anteriores à medida, com declínio no número de casos; sistema de saúde fora do colapso (ou seja, com leitos de UTI vagos) e possibilidade de ampliação de leitos, se necessário; e existência de testes em massa. Segundo ela, se os três requisitos não forem cumpridos, ainda seria possível flexibilizar as medidas de isolamento, desde que, de forma responsável e transparente com a população. Também é essencial monitorar e, se os casos aumentarem, as medidas restritivas são indicadas.


A promotora tocantinense fez intervenções acerca de protocolos  mais claros para os casos moderados, ou seja, aqueles que quando internados não precisam de cuidados intensivos. “Vejo que muitos  casos que ficam em isolamento doméstico podem se agravar e levar os pacientes a sequelas permanentes, como pneumonia de longa duração”, expôs  Araína, fazendo um contraponto aos casos graves em que os protocolos são definidos por equipes de intensivistas das UTIs.


Em resposta, a especialista disse que estão sendo feitos estudos quanto a isso, no sentido de identificar casos que podem evoluir para sequelas ou de terapia intensiva. (Denise Soares, com informações do MPF)